Modernamente, com o incremento mundial de apreciadores de vinho, a vinicultura e a enologia vêm se desenvolvendo muito e, no rastro da evolução das outras ciências e artes (por que sem dúvida acredito ser o vinho expressão de ambas), vêm adotando o caminho das especializações e das especificidades. Com isso vêm também ganhando “rótulos”, alguns justos outros não, pois tratando-se de ciência e arte diretamente ligada ao público consumidor que apresenta os mais variados níveis de conhecimento sobre o tema, sofre tais classificações, que poderíamos chamar de “populares”.
Uma das divisões amplamente reconhecidas hoje pela maioria dos consumidores é a que separa os vinhos de estilo “velho-mundista” dos de estilo “novo-mundista”. Tendo nos primeiros os vinhos ditos elegantes, suaves ao paladar, marcantes mais pelo retro-gosto do que pelo gosto, por assim dizer, ou seja, vinhos que exigem muita atenção e experiência do degustador por serem verdadeiramente sutis; e colocando na seara dos segundos, os vinhos “explosivos”, os chamados “bomb-wines”, com grande alcoolicidade, cores extremamente intensas, muita fruta, ou seja vinhos de percepção mais “fácil”.
O estilo do velho mundo nada mais é que o representado por grande parte da produção de vinhos européia, mais tradicional, especialmente pelos Bordeaux que se utilizam de cortes de uvas típicas de suas regiões, de alcoolicidade moderada, fazem uso moderado de madeira (em geral preferindo o carvalho francês ao americano, de média ou baixa queima, usado, ou o de primeiro uso por menor período), buscando como resultado vinhos “elegantes”, com álcool na casa dos 12% a 13,5%, cor rubi, aromas suaves mas bastante complexos, apresentando aromas secundários e terciários, e retro-gosto agradável e persistente, ainda que nada óbvio, como é também os casos dos Borgonhas ou dos sedosos vinhos portugueses do Douro.
Já o estilo do novo mundo, foi desenvolvido principalmente pelo mais reconhecido “Flying-Winemaker” (um verdadeiro “fazedor de vinhos voador”), Michel Roland, que a busca da satisfação dos desejos, e consequente recompensa numérica em pontos do Sr. Robert Parker, corretamente chamado de “o imperador do vinho”, já que ao comando de seu cetro muda mercados construindo o sucesso ou a ruína de vinícolas por vezes centenárias; com o uso de técnicas modernas como a micro-oxigenação e para alguns “maldosos” até o uso de “chips” de carvalho, de modo a obrigar artificialmente a evolução dos seus vinhos, ou ao menos uma percepção sensorial que assim indica.
Estes vinhos são de percepção notadamente mais clara, pois os sentidos requisitados sofrem o ataque de uma grande amplificação dos sabores e aromas oferecidos pela bebida. Tratam-se de vinhos produzidos a partir de uvas de grande concentração alcoólica, que comumente apresentam vinhos de 14% e chegam às vezes aos 16% ( e não estamos falando de fortificados ou sequer de Amarones feitos com uvas-passa), que apresentam cores intensas de violeta, aromas tão frutados que por vezes agridem o olfato no primeiro momento, mas que sem dúvida seduzem pela arrebatação que provocam nos sentidos, quase entorpecendo-os, com sua doçura natural. Mais comuns nos países vinícolas não europeus, tais como os da América do Sul e do Norte, os da África e Austrália, tiram deste fato a designação de “novo-mundistas”.
A querela aqui levantada sobre a parceria voltada ao sucesso de vendas Roland-Parker, e a homogeneização global da nobre bebida, já foi motivo até de Documentário longa-metragem e não é, neste momento, a razão do presente artigo.
Aqui cabe-nos apenas avaliar que estes vinhos mais claros à percepção dos seus apreciadores em razão da “explosão” que causa nos seus sentidos são, certamente, mais “fáceis” que os ditos “sutis” exatamente na medida destas expressões, pois aos olhos, ou melhor à boca e nariz, dos degustadores são de percepção muito mais clara quanto aos aromas e sabores que trazem. Tal fato, todavia, não deve ser visto como demérito, pois é certo que há excelentes exemplares de vinhos em ambos os estilos. Além disso, não podemos deixar de relevar o papel extremamente importante que estes vinhos “fáceis” vêm cumprindo de seduzir um maior número de consumidores para o vinho, que mais cedo ou mais tarde, a exemplo do homem que ao amadurecer passa a preferir a “mulher” à “menina” acabam por derivar sua preferência aos vinhos mais sutis e sofisticados pela sua complexidade.
Alexandre Franco