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Per Brindare I

O final do ano já desponta no horizonte, e com ele o chamado período de festas. E quando se pensa em festa não há como não se lembrar do vinho, aliás da bebida mais festiva do mundo: O CHAMPAGNE.

Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, procurarei dar algumas pinceladas ao longo desta e das próximas edições, que pintem um quadro deste que é, sem dúvida o vinho mais brindado do mundo. Comecemos, pois, por uma breve visão estrutural e histórica.

Champagne é, antes de tudo, uma região do nordeste da França, localizada a leste de Paris e ao norte da Borgonha. Ao longo de toda a história, talvez tenha sido a área vinícola que mais sofreu a ação de invasões e guerras, muitas delas já tendo como um dos motivos o próprio vinho da região. Trata-se de uma porção de terra de menos de 80 mil acres de clima frio e solo de giz. Somente os vinhos produzidos neste local podem legalmente chamarem-se CHAMPAGNES. Os demais vinhos borbulhantes, de qualquer outro lugar do mundo, ou da própria França são genericamente chamados de ESPUMANTES, e regionalmente podem adotar outros nomes como a Cava espanhola, o Sekt alemão ou o Prosecco italiano.

As tão festejadas borbulhas foram, por um longo período, um desastre natural que muito incomodava os vinhateiros da região. O famoso Don Perignon não só não “inventou” o Champagne espumante, como passou grande parte de sua vida dedicando-se a tentativas de extinguir as borbulhas de seus vinhos. Na verdade, os vinhos de Champagne eram claretes, que disputavam mercado com os vinhos da vizinha Borgonha. Começaram a fazer sucesso no reinado de Luis XIV, o rei Sol, que tinha declarada preferência por estes vinhos.

As borbulhas, por muito tempo consideradas um defeito, só vieram a se constituir em característica valorizada na segunda metade do século XVII, a partir de quando o grande problema passou a ser como domá-las, impedindo que as garrafas explodissem. Don Perignon, finalmente conformado em valorizar o vinho de que dispunha, sempre borbulhante, aproveitou seus grandes conhecimentos de vinhateiro para melhorar a qualidade de seus vinhos, tendo desenvolvido importantes técnicas como a poda vigorosa para aumentar a concentração das uvas, a vinificação de uvas tintas “em branco”, a colheita das uvas antes do sol quente, a separação de vinhos de diferentes vinhedos e a “construção” de um Champagne a base de um corte de vários vinhos-base.

A vinculação natural que o Champagne desenvolveu com as festas, bem como a eventual alcunha de “vinho dos reis”, deriva do fato da capital da região sediar a Catedral de Reims, local de coroação de praticamente todos os reis da França, que obviamente comemoravam com o vinho de Champagne.

Vítima ao longo da história de uma interminável série de invasões, palco de muitas guerras, desde sempre, passando pela dominação Romana e as invasões bárbaras, a destruição de Reims foi quase completa na Primeira Grande Guerra, e com ela as “Casas” produtoras de Champagne sofreram perdas enormes que chegaram a por fim em algumas marcas centenárias. Por fim, a segunda Guerra Mundial marcou o último período de conflito que afligiu a região, tendo sido invadida e ocupada pela Alemanha, dentre outras razões, principalmente para dominar a produção e comercialização dos vinhos de Champagne que acabaram por muito contribuir em rendimentos para as campanhas de Adolf, mas ao mesmo tempo tornaram-se a alma da Resistência Francesa.

Mais recentemente as guerras de Champagne se limitam a combater o uso abusivo e ilegal de seu nome em vinhos espumantes de outras regiões do mundo.

Na próxima edição veremos as técnicas de produção deste sensacional vinho, mas até lá não deixem de aproveitar estes e outros espumantes, especialmente os nacionais, para brindar e degustar.

Alexandre Franco

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